Palestra
Manejo de doenças em sorgo sacarino
Dagma Dionísia da Silva EMBRAPA Milho e Sorgo - Três Lagoas/MG
As doenças que atacam a cultura do sorgo sacarino são as mesmas que infectam os outros tipos de sorgo (grão, pastejo e silageiro) as quais podem ser limitantes à produção, dependendo das condições ambientais e da suscetibilidade de cada cultivar. Dentre elas, destacam-se como importantes, a helmintosporiose (Exserohilum turcicum), a antracnose (Colletotrichum sublineolum), a ferrugem (Puccinia purpurea), o míldio (Peronosclerospora sorghi) e o ergot ou doença açucarada (Claviceps africana). Outras doenças que podem ser observadas são o mosaico da cana-de-açúcar (SCMV) e a mancha de ramulispora (Ramulispora sorghi), porém estas ainda ocorrem em baixa frequência. Os prejuízos causados pelas doenças vão além das perdas na qualidade e na quantidade de massa verde. Algumas doenças também reduzem a quantidade de açúcares no colmo ou predispõe a planta ao ataque de patógenos causadores de podridão de colmo como a ferrugem e a helmintosporiose. Assim, o correto manejo das doenças em sorgo depende dos patógenos presentes em cada região de cultivo, da reação dos cultivares a cada patógeno, da época de ocorrência de cada doença e da existência de condições climáticas que as favoreçam. Na tomada de decisão sobre que medida de controle deverá ser adotada é importante fazer o monitoramento e a correta diagnose das doenças em campo visto que sintomas causados por fatores abióticos, fisiológicos, de deficiência nutricional e danos causados por herbicidas podem ser confundidos com sintomas de doenças. A partir da identificação das doenças que prevalecem em campo a primeira medida a ser tomada é escolha do cultivar a ser plantado. Já foi observada variação na reação de sorgo sacarino para as três principais doenças que ocorrem em sorgo sacarino atualmente, a helmintosporiose, a antracnose e a ferrugem. A resistência genética é a medida mais importante para o manejo de todas as doenças em sorgo, não havendo diferença no preço de sementes suscetíveis e resistentes dos cultivares. No entanto, a variabilidade dos patógenos é o principal problema quando se pensa em durabilidade da resistência genética, devido à possibilidade de superação da resistência, principalmente em locais com alta quantidade de inóculo e sob plantios contínuos com o mesmo cultivar. Após a escolha do cultivar, o tratamento de sementes é a próxima medida que deverá ser observada para reduzir as chances de patógenos carregados ou transmitidos pelas sementes possam reduzir o estande de plantas no início do desenvolvimento da cultura ou servir de fonte de inóculo, como no caso do míldio. Existe no MAPA, um produto comercial à base de metalaxil + fludioxonil registrado para o controle de fungos do solo que tem sido eficiente em reduzir a incidência de míldio e dois produtos comerciais à base de captana, para o controle de patógenos causadores de podridões, tombamentos e mofos, tais como Phoma sorghina, Cladosporium cladosporioides, Alternaria tenuissima, Fusarium moniliforme, Rhizopus spp., e Aspergillus spp. Estes produtos também são recomendados para controle de C. sublineolum e Exserohilum turcicum. A partir daí, conhecer a época de ocorrência também ajuda na tomada de decisão sobre o manejo das doenças. As principais doenças em sorgo, como a helmintosporiose e a antracnose, ocorrem na fase vegetativa ou a partir do florescimento, respectivamente. A helmintosporiose ocorre com maior frequência antes da emergência da panícula e sua incidência tem sido maior em áreas de plantios de safrinha no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, devido às condições mais baixas de temperatura, entre 18 e 27 °C que favorecem sua incidência e severidade. A ferrugem, doença causada por Puccinia purpurea, um parasita obrigatório, necessita de tecido vivo para se desenvolver, mas tem como condições favoráveis, temperaturas mais amenas e alta umidade. A partir do florescimento, a antracnose passa a ser a doença mais severa em cultivares suscetíveis. Plantas expostas a períodos prolongados de temperatura e umidade elevadas, e principalmente coincidindo com a fase de formação dos grãos, poderão apresentar severidade alta e perdas na produção superiores a 70%. Outra doença que merece atenção com a proximidade do florescimento é a doença açucarada ou mela do sorgo. Esta doença tem ocorrido de maneira severa em todas as regiões do Brasil, tornando-se problema para indústria de sementes e produtores de grãos e forragens. Para o sorgo sacarino, a doença açucarada pode ter efeito negativo na produtividade, por reduzir a quantidade destes açúcares no colmo. No caso do sorgo sacarino, cultivado no período de entressafra da cana, o plantio ocorrerá nos meses quentes do ano e com maior precipitação, entre novembro e dezembro, período favorável as principais doenças do sorgo. Caso nenhuma das medidas anteriores seja suficiente e uma das doenças ocorra, o controle químico poderá ser a estratégia usada. Neste caso, deverá ser realizado de acordo com a presença e severidade das doenças e com a época de ocorrência das mesmas durante o ciclo da cultura. A helmintosporiose e a ferrugem geralmente iniciam na fase vegetativa, e a antracnose a partir do florescimento. O controle da helmintosporiose tem sido recomendado entre 40-45 dias após a emergência (DAE). Na avaliação de dez fungicidas foi observado que os fungicidas do grupo dos triazóis e estrobilurinas, puros ou em mistura, foram os mais eficientes na redução da helmintosporiose, destacando-se o Tebuconazol, Trifloxistrobin + ciproconazol, Epoxiconazol + piraclostrobin e Piraclostrobin e menos eficientes foram o Tiofanato metílico e Carbendazin. Uma aplicação foi suficiente para reduzir a severidade da doença. Apesar dos mesmos fungicidas que foram eficientes para controle da helmintosporiose terem favorecido o ºBrix, os maiores valores foram observados quando as aplicações foram realizadas a partir de 55 DAE. No caso da antracnose, a maior eficiência é observada nas aplicações próximas ao florescimento com os fungicidas com princípios ativos, Tebuconazol, Epoxiconazol + piraclostobin, Piraclostrobin, Azoxistrobin, Trifloxistrobin + ciproconazol e Carbendazin e o Epoxiconazol puro o menos eficiente. Quanto à época de aplicação, uma aplicação aos 70 ou aos 90 DAE reduziu a severidade da antracnose em relação à testemunha, porém a maior eficiência foi observada com duas aplicações, 70 e 90 DAE. Para a variável °Brix, também houve efeito dos fungicidas e interação com as épocas de aplicação. Os maiores valores de °Brix foi alcançado quando os fungicidas mais eficientes foram aplicados, com destaque para o Epoxiconazol + piraclostobin e o Piraclostrobin puro, ambos com valores do °Brix acima de 16. Vale lembrar que embora o uso de fungicidas apresente eficiência no controle de doenças em sorgo sacarino, à exceção do tebuconazol, nenhuma outra molécula possui registro no Ministério da Agricultura para uso na cultura do sorgo para o controle de doenças de parte aérea.
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